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10 de setembro de 2017

Uma Reflexão sobre a novela A Força do Querer - Blog e-Urbanidade

Carol Duarte nas duas fases de
A Força do Querer
 As novelas brasileiras são, sem dúvida, um dos grandes produtos culturais do Brasil, além de entretenimento, muitas produções foram capazes de reunir seus telespectadores em torno dos mais variados temas. Mesmo que acredite-se num decrescente interesse por essas produções nacionais, A Força do Querer vale uma análise.

Glória Perez, a autora solitária da novela das nove, já mostrou sua forma peculiar, traquejo com histórias mirabolantes, algumas ótimas e outras irregulares, e capacidade de mostrar a periferia com suas mulheres operísticas, com tom acima.

A autora de A Força do Querer repete personagens de outras produções, como Caminho das Índias, América e O Clone. Outro traço da sua teledramaturga é a criação de vários núcleos que pulveriza, mas é uma forma de criar possibilidades para tramas e gostos. Perceptível, também, na sua minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes.

Enquanto Glória já mostrou, por exemplo, granfinas cleptomaníacas, agora foi a vez de uma viciada em jogos. Graças ao carisma de Lilia Cabral a personagem morna sobrevive.

Por sua vez, A Força do Querer inova ao retratar dois universos: tanto da Bibi (Juliana Paes) e da Ivana (Carol Duarte).

Bibi, a mulher comum que se envolve no tráfico, inspirada no livro Perigosa, de Fabiana Escobar, traz para a dramaturgia brasileira personagens de caráter questionáveis e presentes na chamada terceira onda criativa da teledramaturgia americana. Bibi tem trajetória similar de Walter (Breaking Bad). Sua transformação gradativa revela uma heroína complexa que transita em várias camadas éticas, deixando o público o tempo inteiro refletindo sobre esses limites.

Por outro lado, o transgênero interpretado por Carol Duarte, Ivana, é o mais inovador em A Força do Querer. Ainda sendo um assunto retratado em produções mais limitadas, inclusive já falamos de algumas delas aqui, como o seriado da Amazon, Transparent, e o documentário Laerte-se, Netflix, era difícil imaginar que isso chegaria tão rápido em uma novela da TV Globo.

A atriz Maria Clara Spenelli
interpreta Mira
O roteiro deixa monocórdio demais quando, por exemplo, Eurico (Humberto Martins) ao ouvir a história solte frases apenas preconceituosas. Obviamente isso é real, mas poderia ser mais elaborado. Inclusive quando Ivana se revela aos pais e sai de casa, valeria a pena a autora ter assistido a entrevista de Lea T e seu pai Toninho Cerezo, no Programa do Bial.

Mesmo assim, a trama de Ivana tem muitos pontos positivos. Incluindo a participação de Silvério Pereira que eleva o núcleo com sua participação pregressa na companhia cearense, Coletivo Artístico As Travestidas. Vale ainda elogiar a escalação em outro núcleo da atriz, transgênero, Maria Clara Spenelli interpretando um cisgênero. Isso sim revela uma produção realmente envolvida com o tema e com a quebra do preconceito.

A Força do Querer está perto do fim e aponta que as novelas parecem ainda ter gás para sobreviver. Basta observarmos as outras produções no ar da TV Globo que são inovadoras e saem do formato tradicional. Isso mostra que antes de propor diferentes linguagens o mais importante numa produção para a tevê está na elaboração de bons personagens: ambíguos e deslocados da classificação dicotômica de mocinho e vilão.

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